por Nelson Rodrigues
Amigos, Manchete pediu-me para escrever sobre Mario Filho. Ora, desde que meu irmão morreu, instalou-se em mim uma obsessão: falar dele e só dele. E Manchete não precisaria pedir. Minha vontade era sair, de porta em porta, dizendo a amigos, conhecidos e até desconhecidos: – “Mario Filho foi o único grande homem que eu conheci”. Vejam bem: o único, rigorosamente o único. Minha sensação é que, diante dele, todos nós somos pequeninos como aqueles anões de Velásquez. Tivemos cinquenta anos de convivência e, portanto, meio século de intimidade exemplar e implacável.
Vou começar dizendo que Mario Filho era de uma bondade desesperadora. Bom a cada minuto. Bom de uma bondade que, por vezes, nos agredia e humilhava. Se ele aparecesse, com um passarinho em cada ombro, eu não me admiraria com nada. Bom nada, a alegria de ser bom. Vejam todos os seus retratos: – era uma cara toda feita de alegria. Grato à vida, nunca se arrependeu de ser humano, de ser nosso semelhante. Era um ser atravessado de luz como um santo de vitral.