Big Island Dreams

DAQUELE JEITO

7h50 o bashar a la zap me vibra. Abro os olhos. “Cadê você, cara?”, perguntava-me o Cleyton.

Eu disse que já tava quase na casa dele, como marcamos, às 8h. Mas eu nem tinha levantado ainda pra falar a verdade. Íamos para Ilha Grande naquela sexta-feira e nosso ônibus saía às 9h. Corri e continuei correndo até chegar na casa do menino por volta das 8h15. Ele já me esperava e pedia o uber, que em menos de cinco minutos freou próximo a nós. Entramos.

– Vão pra rodoviária, né? – confirmou o motorista.

– Isso. Mas aí… DAQUELE jeito. – explicou o Cleyton.

Colocou o óculos de grau. O homem olhou-nos pelo retrovisor.

– DAQUELE jeito?

– É, nosso ônibus sai às 9h.

– Vocês sabiam… que eu era piloto de ambulância?

Quem andasse pelas ruas do Méier naquela manhã de sexta talvez conseguisse ver o vulto da máquina que engolia as ruas em direção à Rodoviária Novo Rio.

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relatos de uma autoestima #02

Eu detesto falar com pessoas na academia. Trocar a mais rápida das palavras é como assinar um contrato de que você precisará cumprimentar a pessoa pro resto da vida, encontrando-a diariamente naquele ambiente, o que não seria tão ruim assim se não fosse o pior de tudo – as pessoas da academia são incrivelmente entediantes.

Certa vez, há 3 anos, uma professora super petista estava na academia argumentando com uma velhinha sobre política, a velhinha dizendo absurdos, que os sírios vinham pro Brasil roubar nosso emprego, empregos esses escassos por que a Dilma safada tinha roubado não sei o que lá, e a professora quase explodindo de raiva por que ela saíra da miséria graças ao Lula e ganhara sua casa graças à Dilma, enfim, esses embates que ocorrem no dia a dia, quando um cara, que eu nunca tinha sequer cumprimentado, chegou pra mim e disse: hehehe, Dilma vagabunda, tinha que ir presa!

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relatos de uma autoestima #01

Ultimamente eu tenho tido aquela que, ouso dizer, é a melhor aparência que já tive na vida. Isso é triste, pois sugere que daqui pra frente só há de piorar. É claro que a minha visão sobre isso é subjetiva e tendenciosa; talvez somente meus pais, que me viram diariamente nos últimos 23 anos, soubessem afirmar isso, mas fato é que me olho no espelho e me sinto bonito.

O que penso é que, independente da minha autoestima, que está alta sim senhor, estou bonito. Todo o emaranhado cósmico que delimita os pormenores de nossas vidas se alinhou de forma tal que hoje posso frequentar a academia, praticar esportes, ter uma alimentação de qualidade e um ritmo de vida saudável.

Tudo isso, somado e em suma, juntou-se a um momento em que encontrei no Ney, meu barbeiro, um amigo, um companheiro e ajudante, diferente das moças de salão que sempre mais prejudicavam do que ajudavam, a despeito do preço que cobravam.

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O Centro ao Meio-Dia

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“11h55?”, o Gui me mandou no whatsapp. “F1” respondi.

Eram 11:45. Eu estava no escritório e já começava a me preparar para dar um dois num beck antes do almoço, como fizemos algumas vezes pontuais.

Começou de forma inocente. Certa vez a gente tava afinzasso de dar um dois e não sabia aonde – o centro do Rio é cheio de coxinhas de terno, policiais e delatores. É preciso ter cuidado.

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Hangloose

busstopCircunstâncias da vida me levaram a estar no bar numa quarta à noite do outro lado do Rio de Janeiro. Eram 23:30 e eu estava ligeiramente bêbado, após conversas singularmente importantes (assunto para outro momento)* em um ponto escuro e deserto do centro do Rio de Janeiro, torcendo muito para que o ônibus, que o último da noite saía às 23:15, não tivesse ainda passado por ali.

*N.A.: Eu não lembro mais o que era.

Após alguns minutos de aflição ele apareceu. Entrei e a primeira coisa que ouvi foi o motorista gritando “Quer meus dado? Se quiser meus dado eu te dou. Mas senta ai. Tu vai cair de novo. Alá, não ta nem se segurando, vai cair de novo”.

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Aquela de Jambú

Era verão.

Toda a empresa fora convidada a uma churrascaria chique na zona sul. Comemos comida de gente rica, com carnes que se desfaziam na boca, champagne e cerveja liberada, tudo às custas dos nossos chefes. Vez ou outra pediam o microfone para fazer algum tipo de agradecimento, “estamos ficando bilionários às custas do seu tempo de vida e esforço”, só que mais bonitinho, sabe, coisas assim.

Por volta das 17h ninguém aguentava ingerir mais nada – até por que não podíamos fumar um Bergson por ali, o que diminuía sensivelmente nossa capacidade alimentativa – e estávamos ansiosos para uma choppada que iríamos dali a pouco. Nosso grupo saía pouco, mas quando saía era pra fazer história, e estávamos portanto ansiosos para ir àquela choppada de publicidade da faculdade do meu amigo, o Gui.

Chegamos por volta das 19h. Estava claro e todos já bêbados – a festa começara 16h. Meio deslocado, eu sabia que era questão e tempo – e álcool – até tudo se resolver.

Hoje vou te arranjar uma menina“, disse-me Gui.

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