Enjôos matinais

O problema de tomar doce é que ele te deixa à par da sua situação. E com enjôos matinais.

Eu estou um pouco enjoado.

Um amigo deixou um doce aqui em casa, disse que eu poderia tomar, e aí numa sexta-feira de bobeira fui lá e tomei.

Minhas últimas experiencias com doces tinham sido bem impactantes, de virar uma ameba, nao conseguir me mover nem conversar direito, só ficar deitado contemplando a existência.

Não sei o que de lá pra cá mudou, mas naquela sexta eu tomei um quartinho. E foi bem divertido, me escangalhei de rir jogando fifa, me indignei com o término de um anime e fiquei compenetrado em alguns episódios de better call saul. Um resto de pizza forrou o estômago – que não tinha fome, mas achou prudente – e foi uma excelente noite.

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Ninguém ensina a ser adulto

De maneira geral, eu me saio bem. Consigo garantir uma estabilidade, um padrão estético e de limpeza. Mas quando o assunto é lavar roupa, aí lascou.

Não é como cozinhar, por exemplo. Cozinhar é uma técnica, do grego tékchné, ou seja, uma prática que cria. Você junta conhecimentos de produtos, de maneiras, de temperos, alguns procedimentos sobre como manuseá-los, gestão da água, da temperatura, e cria uma coisa nova.

Cozinhar é uma técnica, e como tal pode ser levada às últimas variáveis, o que não é o que eu pretendo. Tenho poucos conhecimentos, mas posso dominá-los bem. Faço pratos suficientes para não precisar repeti-los sempre, e os faço com um padrão ok de qualidade.

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Entre negronis e limerancias

Obviamente cheguei no rolê cedo. Não sei mais ser solteiro. Era um sábado frio e tinha marcado 19h com um amigo e uma amiga na Cinelândia. Às 19h eu já estava lá e eles disseram que ainda iam demorar. Fui tomado por uma tristeza bem intensa. Andei um tempo por ali, entre os mendigos e a pequena multidão que entrava no Theatro Municipal pra assistir ao Lago dos Cisnes. Eu queria ver, mas não consegui ingresso. Quando começou o espetáculo, na Cinelândia só restaram os mendigos e o frio. E eu.

Entrei no amarelinho, pedi um chopp. Lembrei do tempo em que a solidão não me parecia tão enclausurante. Eu gostava, até. Acho que é porque morava com meus pais, estudava e trabalhava. A solidão nesses casos é um luxo. Numa noite fria, não. Naquela, especificamente, eu estava bem triste.

Notei um quadro escrito Negroni. Pedi um. Gin, vermute, campari, uma fatia de laranja e uma pedra grande de gelo. Isso não me diz muito – detesto gin, não sei o que é campari nem vermute. Laranja eu sei. Mas Negroni tem um branding que me pega, é um ruim gostoso.

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Balanço dos meus 26 anos

Por mais que esse ano eu tenha postado pouquíssimo, não poderia deixar de fazer o clássico balanço de aniversário, aquele momento anual em que eu repasso alguns pontos do meu ano para utilizar de save-point de como está minha vida. Lá na frente, quando eu morrer, pode ser que isso sirva a alguém; no mais, serve a mim, como terapia.

Falando em terapia, esse foi o ano em que eu efetivamente comecei a fazer terapia. Eu falo lá exatamente o que eu falava aqui, no blog, com vocês. Mas quando a gente envelhece, fica difícil contar da nossa vida – as pessoas que participam dela ficam de olho, e são cheias de coisa. Tudo fica complicado. Tudo gera uma nuance, uma exposição, que filosoficamente poderia afrontar outrém. Daí a gente perde aquele tesão em se expor, coisa que é feita com tanta naturalidade na juventude. Hoje em dias, as pessoas não querem falar muito de si, se refugiam falando sobre coisas, e nisso eu não tenho tanto talento porque o que eu gosto não costuma ser tão popular assim.

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Tiramos meus avós da Vila Cruzeiro

Hoje meus avós se mudaram. Aliás, eles estão se mudando desde ontem. Mas vamos começar do começo.

Quando eu nasci, meus avós já moravam há 10 anos naquela casa. Meu avô foi sapateiro por muitos anos, até virar pedreiro, daqueles jeitosos e limpinhos que fazem os serviços bem feitos.

Era uma casa graciosa, nada que chamasse a atenção, nunca estaria no Pinterest, mas uma casinha perfeitamente agradável e funcional, com um murinho baixo, cacos de vidro no topo do muro para evitar ladrões, um telhadinho pra proteger o fusca, e um corredor grande e largo.

Após o corredor, um degrauzinho te fazia adentrar a casa, logo na sala, na mesa onde almoçamos em todas as datas comemorativas. À esquerda, a cozinha, que por ser criança nunca pude mexer muito, exceto pra sentar na mesinha do canto e tomar um café com creme crack.

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Um texto com saudade: Ah, como era bom evento de anime!

Eu começo a ir ficando velho e vou sentindo uma saudade tremenda de como as coisas eram na infância. Em especial naquela época antes da internet, quando as coisas eram mais simples e, ao mesmo tempo, mais intensas.

Com 7 anos eu me mudei para o interior de São Paulo e meu irmão me ensinou a jogar Magic. Foi num sítio de um amigo do meu pai, depois de um dia de correria e piscina, aprendi a jogar Magic embrulhado numa toalha, com a sunga molhada, ensinado pelo meu irmão. Também lembro que naquele dia ouvi barulho de sapo e fiquei apavorado.

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O narcisismo destrutivo de Karol Conká

Acho que não existe um brasileiro vivo que desconheça o desconforto generalizado que causa a Big Brother Karol Conká. Vamos a um breve relato dos feitos da moça em apenas um mês de programa.

LUCAS

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Nas duas primeiras semanas, vimos Conká destilando tortura psicológica com um menino de 24 anos. Proibindo-o de comer na mesa, manipulando as pessoas para excluí-lo, humilhando-o repetidamente, e atentando contra a sanidade dele de maneira premeditada.

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Provas de que tive 25

Quando o relógio marcar meia noite no dia de hoje, eu terei legalmente 26 anos de idade. É preciso que se registre isso, caso contrário ninguém terá percebido que passaram meus 25 anos.

Isso porque esta foi a idade mais discreta e improdutiva de toda a minha existência. A pandemia e a quarentena fizeram meus 25 anos irem de grande promessa a uma retumbante frustração. Mas nem tudo são lágrimas neste vale de intenções perdidas. Vamos por partes.

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Que que ta rolamd

Os dias não têm sido bons. Acordo com uma ansiedade tão esquisita que de meia em meia hora acho que preciso fazer cocô. Mas é só uma ansiedade e um pum.

Não quero ser permissivo com o termo ansiedade, até porque condeno quem usa assim à toa. Não chega a ser nada patológico, é aquela ansiedade natural que antecede grandes conquistas: quem não sente, já está morto.


Eu me mudo no sábado pra um bate-e-volta na casa dos meus pais enquanto não fecho meu novo apartamento. Tenho aproveitado a semana para visitar apartamentos o máximo que posso, pois depois de sábado será complicado me locomover para o bairro pretendido. Pode não parecer, mas ainda estamos numa pandemia.

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A quarentena é curiosa…

Depois de muito tempo, fui à casa de umas amigas que moram aqui na rua de trás. Mesmo que fosse normal, parecia diferente. Algo meio privado, ninguém podia saber. E mesmo que parecesse normal, era mesmo diferente. Não porque 1500 pessoas morriam por dia. Mas porque depois de tanto tempo se comunicando tão pouco, falando com tão poucas pessoas – uma cerveja e um bate-papo verbalizava tanto! E verbaliza para além dos discursos comuns, que nos habituamos a usar socialmente, nas conversas corriqueiras, que constroem aquela persona transitória. Fomos encontrando um novo tipo de conteúdo, um pouco parecido com o antigo, mas com umas pitadas um pouco mais reflexivas, como se todos ficássemos um pouquinho Zaratustra das ideias.

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