Este post é a continuação desse dia aqui.
Então era a vez do meu verdadeiro amor: Fluminense.

Um estádio de futebol é uma situação cheia de estímulos, de mecanismos próprios, de construção permanente de aleatoriedades.
Realidades paralelas se criam e acabam a todo instante, sem nenhuma reverberação sensível na realidade explícita.
Uma cultura totalmente própria e autêntica vai se desenhando diante do baile imposto pela esquadra de Fernando Diniz, o maior pensador do futebol brasileiro atual.
Como por exemplo a noção clara e comprovada de que sempre que a M. vai ao banheiro sai gol.
A sensação de ir ao estádio e perder o gol é dolorosamente frequente. Por maior que seja o planejamento e o afinco com os horários, entrar no estádio é como entrar num fuso-horário distinto, uma zona temporal em que você está permanentemente atrasado.
Se o jogo é às 17h e você entra no estádio 16h50, imediatamente você é transportado para 17h10.
Às vezes o jogo é às 16h e você está desde 13h se preparando. Mas termina a última curva da rampa de acesso às 16h10.
Quando se vê, os jogadores já estão em campo e a bola rola. Você ainda está na fila da cerveja. Alguns chegados não conseguiram chegar ainda. Você pede pra alguém ficar na fila enquanto você vai ao banheiro.
E aí, quando menos se espera, sai o primeiro gol.
Esse cenário se repete à exaustão. Mas não foi o caso daquele dia. Naquele dia, um outro ritual seria invocado pela mitologia das arquibancadas.
Pois quando a M. disse que ia ao banheiro, todos nos entreolhamos. Um acordo tácito com o universo. A energia já corria de nossos poros. Estava premeditado. Nem precisou ser dito nada para que ela sentisse necessidade de assegurar: NÃO VAI SAIR GOL ENQUANTO EU ESTIVER NO BANHEIRO.
Com essa frase, sem saber, M. assinara um contrato com o destino. Se despediu e correu o quanto pode. Mas não se pode fugir aos planos de Deus né. Assim que pisou fora da arquibancada, John Arias estufou as redes com o terceiro tento daquela noite.
Um raio congelante deve tê-la atingido naquele momento. “Eu não queria voltar”, ela disse, “pois já imaginava o quanto vocês iam me perturbar”.
Foi recebida com calorosos sorrisos e pedidos para que voltasse mais vezes ao toillet.
Agora, respeitosamente, iremos ao estádio assim:

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Ao término do baile de 4×0, a chuva incessante permanecia castigando o carioca. Mas agora eu me entregava. Uma chuva purificadora. A chuva do pentacampeonato tricolor. Estou de férias, sou feliz e não devo nada a ninguém.
Aposto que Jesus só topou ser crucificado porque estava de férias. “Tu volta segunda”, prefiro morrer e liquidar os pecados da humanidade.
Morreu na quinta porque não tinha compromisso à noite. Voltou domingo pro almoço. Na segunda meteu atestado.
Uma consideração sobre “O banheiro do Maracanã, um local sacro”