
Eu estou um pouco enjoado.
Um amigo deixou um doce aqui em casa, disse que eu poderia tomar, e aí numa sexta-feira de bobeira fui lá e tomei.
Minhas últimas experiencias com doces tinham sido bem impactantes, de virar uma ameba, nao conseguir me mover nem conversar direito, só ficar deitado contemplando a existência.
Não sei o que de lá pra cá mudou, mas naquela sexta eu tomei um quartinho. E foi bem divertido, me escangalhei de rir jogando fifa, me indignei com o término de um anime e fiquei compenetrado em alguns episódios de better call saul. Um resto de pizza forrou o estômago – que não tinha fome, mas achou prudente – e foi uma excelente noite.
Eu estava me escondendo um pouco do mundo, queria ficar em casa, descansar, economizar um dinheiro, jogar videogame em paz. E veio tudo a calhar.
Até que eu acordei no sábado, cansadão, aquela ressaca. E eu não tinha nada pra fazer, assim como eu queria. E foi estarrecedoramente triste. Provavelmente era só a ressaca do doce, mas o dia ensolarado e as pessoas felizes na rua pode ter ajudado. E meus pais que se mudaram pra São Paulo, e meus amigos que estão distantes, e as pessoas que seguiram sem mim, e todo mundo que foi embora.
Almocei sozinho num barzinho, como eu gosto de fazer, e foi bem agradável, mas carreguei comigo um pouquinho da melancolia, meio que com os olhos procurando alguém na multidão, alguém que eu não ia encontrar porque não tem rosto.
À tarde fui assistir ao Fluminense e cheguei meio enfesado, em cima da hora, não consegui beber uma cervejinha antes porque o ônibus demorou. Fluzão jogou bem mas empatou. Foi legal também, e nessa hora a tristezinha se distraiu.
Aí no domingo eu acordei, fui almoçar com meus avós, mas a bateria do celular acabou e eu acabei voltando muito rápido, porque eu precisava vir de Uber. E daí me senti culpado por ter voltado tão rápido por um erro tão banal, um ato falho tão idiota de não levar o carregador.
E como ia passar o resto do domingo sozinho mesmo, visto que várias meninas me chamavam para sair, e vários amigos esperavam meu convite para sair, e mesmo assim eu queria ficar sozinho, ainda que ficar sozinho fosse meio melancólicozinho.
Eu acabei tomando mais um pouco do doce, meiotazinha, porque ainda eram 14h e eu tinha muito tempo pela frente. E aí começou gostoso, eu liguei o ar condicionado, assim o lindo dia que estava lá fora não me oprimia, pelo contrário, abrilhantava aquela decisão de estar alheio, à mercê, em uma bolha lisérgica que eu havia criado pra mim naquela tarde.
Enquanto esperava bater, li um livro, e quando bateu me senti profundamente triste e solitário também, e daí por algum tempo fiquei em pé tentando ter vontade de fazer alguma coisa, mas não quis, então deitei no sofá e refleti sobre o quão enfadonho ou fora de lugar eu consigo ser às vezes.
E como foi que eu fui terminar tão sozinho desse jeito, quando que tantos amigos, e até a família, foi todo mundo pra longe…
E aí eu queria falar com alguém mas eu estava tão desnecessário, tão desregulado, ninguém ia querer falar comigo, ia ser esquisito. A solidão me aprisionou um pouquinho nela, e eu decidi jogar um Fifa, para distrair a cabeça, e consegui.
Depois jantei a comida que minha avó separara pra mim num potinho, assisti ao debate presidencial conversando com algumas pessoas – a onda já havia passado mais ou menos, mas eu ainda estava meio diferente.
Na segunda trabalhei normalmente, exceto pelos momentos em que aproveitei para estudar para a prova teórica da autoescola. Seria no dia seguinte, terça-feira, às 10h. Já sabia o caminho, a matéria, tudo. Refazia os simulados, estava confiante e afiado.
18h. Encerro um dia pouco produtivo no trabalho, e quando vou preparar a mochila para a prova, pego o papel. O papel da marcação.
A prova havia sido naquela manhã.
Esse foi o clímax de um fim de semana melancólico. Uma vontade apertada de chorar e uma decepção intravenosa.
Os dias quando se é adulto são uma batalha permanente, é muito cansativo. A gente não consegue descer um segundo. E quando desce, parece que tá perdendo tempo. Que coisa exaustiva.
O problema de tomar doce é que ele te deixa à par da sua situação. E com enjôos matinais.