
Prestes a completar 20 anos, o livro se passa no Afeganistão, logo após o ataque às torres gêmeas. Uma jornalista convive com a família de um livreiro, um homem respeitado e ascendente social, símbolo das contradições de uma sociedade em transformação, retratando o cotidiano de diferentes membros do clã.
O Talibã, que voltou ao poder há algumas semanas, tinha acabado de cair justamente para os Estados Unidos. Com eles, levaram a institucionalização da ignorância e do radicalismo. Nas ruas ainda se encontra destroços, carros queimados, cartuchos de bala, e a violência ainda convive lado a lado, não só pela guerra recente, mas por estar profundamente entranhada na cultura.
Tudo isso naturalizado por mulheres que andam de burca; a burca, que restringe a visão periférica da mulher, assim o homem consegue saber “para onde ela está olhando”. A mulher que não pode ser vista na rua sozinha, nem estar em estabelecimentos sozinha – muito menos entrar em contato com outro homem.
Nisso, uma mulher quer estudar, mas não pode, porque tem homens na turma. Nisso, uma mulher se apaixona, e é espancada até a morte. Nisso, uma criança de 14 anos é obrigada a se casar com um viúvo 20 anos mais velho. Nisso, uma mulher infértil adota o próprio irmão. E nesses outros retratos a gente estranha, fica abismado, acha errado. E vendo o Talibã, em 2021, voltar ao poder, fica com medo, com pena, inconformado.
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É genial todos os níveis em que o livreiro representa aquela sociedade. Alguém que sabe tudo de livros, mas é adepto de todas as ignorâncias; que enxerga o livro enquanto capital, num país em que os Estados Unidos se arvora; que inclusive escreveu um “livro-resposta” a esse, chamado “Eu Sou O Livreiro de Cabul”, para limpar a barra dele.