
O negro da batina, o vermelho do exército francês. Essas cores traduzem os ambientes que vão marcar a história de Julien Sorel, o ambicioso filho de carpinteiro que almeja ascender socialmente.
Julien, por ser extraordinariamente bonito, deixa mulheres apaixonadas por onde passa – e é a partir dessas paixões que a história evolui, o que fez Stendhal comentar que a obra é “a primeira vez que um livro teve a ousadia de tratar dos sentimentos franceses” e também “o único livro que tem duas heroínas, a Senhora de Rênal e Mathilde”.
Publicado em 1830, é conhecido como o primeiro romance realista já feito. As descrições minuciosas nos levam a conhecer por dentro as relações nos círculos sociais que Julien presencia – os maliciosos seminaristas, os invejosos pequenos-burgueses, e a entediada nobreza francesa. É um passeio histórico por uma época e um local deliciosos, que nos ensina muito sobre o ambiente pós-Revolução Francesa.

O mais incrível dessa história é ela ter sido baseada numa história real, a de Antoine Berthet, filho de pequenos artesãos que virou tutor da família nobre Cordon, da qual seduz a filha do patrão. O desfecho trágico da história de Berthet, que é o mesmo da de Julien Sorel, deixo para vocês descobrirem lendo.
Por ser tão antigo, não há no livro aqueles mecanismos viciantes da leitura, como cliff hangers e plot twists. É um passeio linear pela vida de um artesão da época. Eu só me senti preso à história nos momentos em que as paixões afloravam, pois adoro acompanhar um romance proibido, e no desfecho final, com tantas reviravoltas que não se consegue deixar o livro de lado.