
Como pensa um Faria Limer?
Eu resumiria que a proposta desse livro é colocar o leitor nesse lugar, conhecer esse ser que vive nas sombras do rendimento passivo, esse ser que não se preocupa com os boletos no fim do mês mas mesmo assim tem um monte de preocupações absolutamente banais, gente como a gente.
A esposa de Otávio pediu divórcio. Pela primeira vez, ela está ganhando mais dinheiro do que ele. Isso é um choque – logo ele, um economista formado em Harvard. Sua filha gosta dele – e de comida japonesa -, mas seu filho acabou de entrar na faculdade, é um comunista idealista, e tem embates claros com o pai milionário que lhe recusa dinheiro para ocupações.
Não é algo de se ignorar. Os debates que Otávio tem mentalmente com o filho, com a mulher, com a amante e consigo mesmo dão um panorama extremamente interessante do Brasil Lavado-a-Jato. E mais do que isso – de um economista cuja crise de meia idade coincide com a crise da economia brasileira.
Eu diria que é preciso que se leia logo este livro, pois corre risco de ficar datado – lembra quando o governo Temer era o maior problema que tínhamos?
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Quando seu filho vocifera que gostaria de matar todos os banqueiros:
“Aqui no Brasil, na verdade, em qualquer país emergente […] o único efeito de matar banqueiros seria um aumento imediato, talvez brutal, da taxa de juros, a queda também violenta da bolsa, a imediata valorização do ouro como ativo financeiro, e uma imensa especulação com o dólar, talvez com a quebra de alguns fundos hedge. Mas acho que nem isso […] Provavelmente, sob a força dos conselhos administrativos, a reposição imediata dos banqueiros e ação da polícia, tudo voltaria ao normal em poucos dias, com a classe média perdendo economias em fundos de renda fixa e alguns espertos ficando mais ricos. O de sempre.”
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“O dinheiro é a forma mais efetiva que já encontramos de distribuir o poder entre as classes. O problema é que ele ainda está muito concentrado. Devemos encontrar maneiras de distribuir o capital – não de aboli-lo.”