Um texto com saudade: Ah, como era bom evento de anime!

Eu começo a ir ficando velho e vou sentindo uma saudade tremenda de como as coisas eram na infância. Em especial naquela época antes da internet, quando as coisas eram mais simples e, ao mesmo tempo, mais intensas.

Com 7 anos eu me mudei para o interior de São Paulo e meu irmão me ensinou a jogar Magic. Foi num sítio de um amigo do meu pai, depois de um dia de correria e piscina, aprendi a jogar Magic embrulhado numa toalha, com a sunga molhada, ensinado pelo meu irmão. Também lembro que naquele dia ouvi barulho de sapo e fiquei apavorado.

Poucas pessoas conheciam Magic, lembro de um menino japonês extremamente inteligente e silencioso, com o qual meu único assunto era Magic. Aos domingos, descobrimos eu e meu irmão, em frente ao supermercado Russi, numa pequena lan house, que as pessoas faziam campeonatos de Magic. Só precisava pagar 5 reais e tava dentro. Eu tinha 7 anos, nunca passei da primeira fase. Mas meu irmão chegou a uma final uma vez e ganhou uma carta de prêmio.

Era um negócio muito segmentado e qualquer pessoa que tivesse um deck era imediatamente um amigo possível. Até a época em que viemos passar as férias no Rio de Janeiro, fui jogar com um menino chamado Yuri, e ele me roubou duas cartas raras sem que eu soubesse.

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Dos campeonatos de Magic para os eventos de anime foi um passo natural, e eu tenho sentido especial saudade deles ultimamente. Quando me mudei de volta para o Rio, criei um Orkut para manter o contato com os amigos paulistas. Não existia nenhuma foto minha digitalizada, então coloquei um desenho do Edward Elric, porque Fullmetal estava passando no canal Animax da TV à cabo e também era outra coisa raríssima de encontrar quem visse.

As pessoas me confundiram com o recém inaugurado Mundo Fake e outros fakes de anime começaram a me adicionar. Foi assim que eu conheci o mundo fake e, também, como eu conheci um Menino Lá Que Esqueci o Nome.

O Menino Lá Que Esqueci o Nome me chamou pra um evento de anime, e eu convenci o meu irmão a ir comigo. O problema é que, na quarta-feira antes do evento, meu colégio providenciou uma excursão para o Rio Water Planet. Eu era branquelo – minha mãe odeia sol e nessa época crianças não escolhem muito – e todas as crianças bronzeadas diziam que eu precisava tomar sol. Daí que me deram o conselho de não passar protetor e eu passei o dia inteiro no parque, num sol desgraçado, sem protetor.

O Menino Lá Que Esqueci o Nome estava atrás de um estande desinteressantíssimo quando viu assustado aquela criança de 10 anos em vermelho vivo, com bolhas gigantes nos ombros e na cara, dando-lhe Oi. Foi a primeira vez que conheci um amigo da internet.

Nunca mais falei com ele, mas lembro que naquele evento teve um concurso de cosplay e um Rock Lee afeminado roubou a cena.

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Eu amo a vibe que EXALA dessa imagem.

O legal do evento de anime era que seus efeitos eram duradouros. E por efeito eu quero dizer os mangás, pois o grande lance do evento era comprar mangá e roupinhas com desconto. Eu e meu irmão passávamos todo o tempo economizando nossa mesada para o próximo evento. Foi num desses que comprei uma camisa do Naruto, a qual utilizei numa aula de educação física e ganhei o apelido de Naruto até o fim do ensino médio. Também foi num evento que comprei minha munhequeira da NERV, preta, grossa, que chegou a ter um fedor agressivo que combinava com minha recém obtida personalidade emo.

Mas o mais inesquecível foi aquele Anime Family na Gama Filho, uma faculdade de bairro, em que eu e meu irmão decidimos gastar 50 reais para comprar toda a coleção de Dragon Ball Z. Nós já tínhamos Dragon Ball, e foi a primeira coisa que eu li na vida, mas Dragon Ball Z foi o que me fascinou pela leitura. Nós voltamos de ônibus, cada um com quatro sacolas plásticas mais a mochila pesadíssima. Pedimos ajuda para nossos pais nos buscarem e eles não acreditaram que tínhamos gastado 50 reais em mais de 60 livrinhos com desenhos. Meu pai, pelo dinheiro. Minha mãe, porque não teria onde guardar tanto mangá.

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Aquele evento na Gama Filho foi marcado, entre outras coisas, por estar absurdamente cheio. Você precisava entrar numa fila para entrar na fila – e tinha gente que não respeitava nenhuma das duas. Num calor do Saara, levava-se de 5 a 10 minutos para subir qualquer escada, tempo no qual era possível ver em média 17 otakus com plaquinhas escrito “Abraços Grátis =^-^=”.

Ele estava especialmente cheio porque contaria com uma presença ilustre – Kouji Wada, o icônico cantor daquela que é a mais inesquecível e bucólica canção de anime – as músicas de Digimon.

Não há uma pessoa com infância bem vivida que não se arrepie ao ouvir a música do Digimon.

E aí, no meio daquela multidão, era possível ver uma quantidade infindável de L’s, de Narutos, de Misa-Misa e de personagens que eu não fazia ideia, e todos emanavam uma vibe diferente, ousada, destacada. Principalmente as meninas extremamente gatas que se alimentavam de elogios de otakus, uma reprodução dos anos 2000 das e-girls.

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Eu queria que tivessem me avisado que o último evento de anime que eu fui era o último. Eu queria viajar para algum lugar onde ainda os houvesse, daquele mesmo jeito analógico e inocente, só para poder gastar uma fortuna em mangás. Eu queria ter sabido que aquela era a única oportunidade de ver o Kouji Wada, que morreria super cedo dali a alguns anos.

Mas eu queria, principalmente, dar uma banda naquele Yuri filho da puta que roubou a carta do deck de Magic e fez com que eu e meu irmão nunca mais jogássemos Magic.

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Pra encerrar como esse texto merece, algumas imagens saudosas:

Samurai X 5 — Excelsior Comic Shop
Dragon Ball Z n° 29/Conrad | Guia dos Quadrinhos
Yu Yu Hakusho – Wikipédia, a enciclopédia livre
Fullmetal Alchemist - Vol. 2 - Saraiva
Grito de Guerra de Gerrard / Gerrard's Battle Cry | MoxLand
A carta roubada: Grito de Guerra de Gerrard
Bleach - Capítulo 480 por scansPROJECT
Como jogar Ragnarok Online, o clássico MMORPG que conquistou o Brasil |  Dicas e Tutoriais | TechTudo

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