Depois de muito tempo, fui à casa de umas amigas que moram aqui na rua de trás. Mesmo que fosse normal, parecia diferente. Algo meio privado, ninguém podia saber. E mesmo que parecesse normal, era mesmo diferente. Não porque 1500 pessoas morriam por dia. Mas porque depois de tanto tempo se comunicando tão pouco, falando com tão poucas pessoas – uma cerveja e um bate-papo verbalizava tanto! E verbaliza para além dos discursos comuns, que nos habituamos a usar socialmente, nas conversas corriqueiras, que constroem aquela persona transitória. Fomos encontrando um novo tipo de conteúdo, um pouco parecido com o antigo, mas com umas pitadas um pouco mais reflexivas, como se todos ficássemos um pouquinho Zaratustra das ideias.
Pois bem. Saindo de lá senti larica e resolvi comprar um podrão no Batista. Enquanto ele fazia, um cachaça me convidou pra sentar. Não quis, e ele saiu falando. Queria 3 cachorras. Meio pitbull, meio husky. “A gente que vive da rua precisa deles”. Mas depois disse que não podia porque vivia em apartamento, não entendi, não perguntei. Foi exato: a mordida dessa combinação seria de 8 toneladas por polegada quadrada. Era sim. Se tomar uma mordida de uma cachorra dessas, é pra emergência. Não tem jeito. Direto pra ambulância, amputar, perdeu o braço. Tinha um portão que tinha uma dessas. Quem chegava lá perdia o braço. Vê se alguém chegava.
Agora, se ele tivesse três cachorras, elas estariam ali com ele. Ele só tinha um filho – tem filho de uma égua, filho de uma puta.. o dele, tinha 32 anos e não queria falar com ele. Ele podia beber de vez em quando, mas seria tão ruim assim? O culpado era ele – apontando pro Batista – que botava metade do álcool ali naquele copo.
Batista me olhou, um sorriso complacente, “é completo amigo”? É sim, por favor.
Mas o meu filho? E nisso ele tirava uma flauta da bolsa, tocava 5 notas, bonitas até, e dizia: meu filho tá aqui. Bonito, limpinho, tira o cabelo do olho, e o som é lindo. Tá sempre comigo.
Aí ele começou a falar dos cachorros das redondezas. Tinha um que o acordava com lambida molhada. Ele dormia no apartamento ali na frente, no chão, por causa da coluna, e o cachorro acordava com aquela lambida molhada, bem longa, molhada mesmo. Dava vontade de socar ela. Mas não socava, claro, depois a raiva passava.
Eu preciso ir, ta tarde, boa noite aí, tudo de bom, brigado Batista!
Valeu, meu filho, boa noite.
Assisti Friends enquanto comia os bacons do x-tudo um a um, precedendo o hamburger. Me sujei todo, o Ross foi um idiota, quando o Joey ficou com a sobrancelha engraçada a maionese temperada caiu no meu colo.