Terminado o BBB, fiquei órfão de um entretenimento de fácil digestão. Cheguei a passar pelos vales das sombras e da morte, dando chances a Mestres do Sabor e De Férias com o Ex, mas o único que me cativou mesmo foi o reality japonês da NetFlix Terrace House 2019-2020.
A banalidade é a regra. Mas é banalidade japonesa – o que por si só é bem peculiar. Seis participantes, três homens, três moças, passam a viver em uma casa razoavelmente bonita e com 2 carrões.
É só isso. Eles tem total liberdade para sair, trabalhar, convidar pessoas de fora, enfim, a vida continua normal, só que em frente às câmeras. Todos tem alguma relação com o mundo das artes e existe uma tendência entre os participantes de quererem namorar entre si.
O QUE É BOM EM TERRACE HOUSE?
Os comentaristas. Um comediante, dois atores, uma modelo, uma apresentadora, e mais algumas pessoas comentam o episódio sempre com muito bom humor. Eles pegam acontecimentos absolutamente banais e dão uma roupagem bem divertida – mais ou menos o que o Rafael Portugal fazia sacaneando o Daniel.
A trilha sonora. É uma vibe bastante específica de pop rock dos anos 2000. Poderia perfeitamente ser uma playlist comunitária construída na época do orkut com The Maine, Jonas Brothers e McFly. Contudo, são bandas recentes e incríveis, como CHVRCHES, The 1975, entre outras que eu não conheço ainda. Tem a OST toda aqui.
A cultura. A câmera acompanha os participantes no trabalho e nas saídas. Quase todos tem algum trabalho relacionado às artes: existe uma ilustradora, dois atores, um cantor, etc. E eles saem para restaurantes, bares temáticos, shows, exposições, e tu acaba conhecendo um pouco do cotidiano japonês.
A gastronomia. Não é como se o reality fosse focado em comida, mas toda hora eles estão fazendo, comprando ou comendo alguma coisa interessante. A câmera faz takes lindos dos pratos então, se você é desses, vai curtir bastante.
O QUE É RUIM EM TERRACE HOUSE?
De maneira geral, a única coisa ruim do reality é justamente o pudor dos japoneses. Você vai arrancar os cabelos com o tempo que os caras levam para sequer ficarem à vontade na presença uns dos outros.
Estou no 14º episódio, ou seja, já se passaram 14 semanas – e não rolou nenhum beijo! Eles estão há 14 semanas tentando se beijar e ninguém conseguiu chegar nem perto.
A única briga que rolou até agora, de acordo com os comentaristas, foi A Maior Briga Que A TV Japonesa Já Presenciou. Foi mais ou menos assim:
– Será que eu devia dizer que ela é falsa?
– Acho que não, amiga!
– Eu odeio quando vocês ficam sussurrando.
– Desculpe.
SABE UM NEGÓCIO DOIDO?
Como os participantes são livres para sair, alguns saem, outros entram, e o reality realmente parece um organismo vivo. Ou não tão vivo assim. (perdão)
A temporada 2019-2020 foi encerrada sem final, é bom que você saiba. Interrompida por conta da pandemia, a temporada foi definitivamente cancelada quando a participante Hana Kimura, de 22 anos, foi encontrada morta.
Não revelaram a causa da morte. Ela tinha depressão e especula-se suicídio. O caso fez com que a imprensa caísse em cima do programa. Veículos japoneses chegaram a dizer que o programa é fake, roteirizado, que os participantes não moram mesmo na casa e que foram negligentes com Hana.
VALE A PENA VER TERRACE HOUSE?
Vale numa quarentena. Deixe os participantes viverem por você. Peça um yakissoba e se delicie com um episódios – dois, até! – por dia.
Com certeza vai te arrancar umas risadas. Mas não espere nada parecido com o que temos por aqui. É realmente um reality – cotidiano, banal, com coisas que demoram para acontecer e até com pessoas morrendo às vezes.
Onde: Netflix
Duração: 1 hora
Uma consideração sobre “Terrace House 2019: O reality que é reality mesmo”