(Play enquanto lê pra pegar a vibe.)
Minha ex namorada é a única pessoa que eu conheço que curte Esteban Tavares. Então, quando tem show dele, a gente vai junto, só eu e ela, o que poderia soar estranho; mas tendo em vista que terminamos bem, é um role bastante agradável para por a conversa em dia e curtir música boa juntos. Nos sentimentos maduros e satisfeitos pela forma como nos relacionamos e isso acaba nos fazendo felizes também.
Então lá estávamos, curtindo o showzasso do Esteban, um dos melhores no cenário nacional, com muita guitarra, maçonha e letras tristes. A menina tirou um doce da carteira e me ofereceu metade. Fazer o quê, né? Tá bom, então.
Foi lá pra última música, Sinto Muito Blues, que começou a bater. Pedaços de papel rasgados em cima da mesa de um bar… não fume, não beba, não viva, não pense em sonhar!
Difícil, Tabares. Eu engoli o papel rasgado e agora tá batendo um negócio diferente.
Aí acabou o show e a gente precisou tomar uma cerveja. Eram 23h e o atual namorado dela só chegava 1h. Beleza. Sentamos no Bar da Cachaça, um dos melhores locais do Rio de Janeiro, e começamos a beber e bater papo. Uns papo meio maluco, molenga, de gente que tomou droga.
“O Tavares podia aparecer aqui pra tomar uma cervecinha depois do show, né?”, eu comentei. Concordamos.
Aí o namorado dela chegou. Beleza. Clima esquisito. Eles lá de casalzinho, o moleque me lançando uns shade. Eu doidão, pensando, quê? Parceiro, tu chegou agora… fica sussa aê…
Decidi ir no banheiro mais pra dar um tempinho pros pombinhos. Fiquei viajando na fila. Postei um tweet com uma piada qualquer. Uma gringa muito gata saiu do banheiro. Entrei. Quando saí do banheiro, quem tá lá: TABARES!
Voltei pra minha ex: tu viu TABARES??
Vi!!
Nos sentamos e ficamos um tempo inseguros. O namorado dela “gostei, ele é raiz. Sai do show e vem tomar breja no pé-sujo. Não gosto da música, mas gostei do cara”
– Um dia cê vai curtir a música também – eu disse. “Eu gosto de música feliz, a vida tem que ser feliz”, ele argumentou. Ok, esse cara não entende nada de música.
“Cês vão me perdoar mas eu preciso ir lá falar com ele”, disse e saí andando. Tabares, showzasso viado, curti muito, cê é nota dez, muito feliz de te ver aqui. Ele me abraçou, foi super simpático. Bora fumar um beck?, ofereci. Os olhos dele abriram, claro, vamos, vamos, por favor, tu é o melhor cara dessa cidade!
Apalpei os bolsos. Nada. Perguntei pra ex. Nada. O namorado dela? Nada.
E agora que ofereci um beck pro cara e não tenho nenhum?
Catamos as 4 pontas do role – já eram 2h da manhã! – e misturamos com um pouco de tabaco. Ok, temos uma bombinha. Agora é só eu esperar a hora certa, a oportunidade. Ele tá cercado de gente, todos parecem meio esquisitos. Como chegar no meio e oferecer isso? Devem ser fãs… Aí me vem o namorado dela lançando shade.
– Eu não sou de esperar a hora certa não, sabe? Eu vou lá e crio.
– É memo? Pois comigo o universo é muito maneiro. Ele sempre cria a oportunidade pra mim, eu só preciso estar atento para percebê-la.
– Ahm… eu não sou assim não. Eu crio minhas próprias oportunidades.
Olhei pro Tavares. Tinham trocentos fãs ao redor dele tirando foto. Deixo ou não deixo esse zé mané me influenciar? Não, não. O momento certo vai chegar.
Aí eu vejo Marcio Sujeira, o batera, atravessando a rua. “Ô Sujeira! Showzasso, ein?”
“Pô, tu tava lá, cara? Que bom, brigado”, batemos um papo. Era a oportunidade que eu precisava. Sujeira se aproximou do Tavares, que levantou para recebê-lo. Tavares dizia “pega uma cadeira pra sentar aí!”, quando eu entrei num “Ih, nem senta, nem senta. Vamo fumar um beck!”
Quem cria a oportunidade é o universo. Eu só aproveito.
Fumamos a pontinha lastimável. Ponta com tabaco. Que fase. Tavares ficou felizasso e me chamou pra sentar com eles. O papo na rodinha tava meio chato. Uns fãs rasgando seda pro cara, o cara numa egotrip. Meti o pé 5h da manhã, satisfeito, conheci mais um artista qu’eu curto.
***
Broder meu me chamou pruma festa que prometia ser irada. Manie Dansante. Ia rolar dentro de um circo, toda a temática circense, bebidas mexicanas, pessoas em pernas-de-pau, espetáculos com fogos e coisas afins. Meu broder tava com uma maçonha daquelas top. Ele não fumava muito, mas fumava do bom, então investiu num skunk com semente da Califórnia que custava 60 reais o beck. Se nosso prensado do dia a dia custa marromenos uns 5 reais o beck, você pode imaginar o quanto esse de 60 reais estava gostoso.
Papo vai, papo vem, eu olho pra trás e lá está: Danilo Cutrim!
Para quem viveu em uma CAVERNA nos últimos 20 anos e não sabe, Danilo Cutrim trata-se do vocalista dos bastiões da música nacional, Forfun, puta que pariu, a melhor banda do Brasil!
“Mano, Danilin tá atrás de nois”
“Que Danilin?”
“Do Forfun!”
“Caô!”
Danilin, desculpa atrapalhar tua noite aí cara, mas eu sou muito teu fã. Será que rola uma fotinha?
Batemos um papinho rápido, tiramos uma foto histórica – se ainda fizessem isso, eu a revelaria e a teria em um quadro – e ofereci-lhe um beck. “Hoje eu tô careta”, respondeu Danilin, jogando por terra toda e qualquer imagem que eu poderia ter sobre ele.
O vocalista da banda mais maconheira do território nacional recusando um skunk desse?
“Mas é da California… skunk pesado…”, argumentou meu amigo, sendo recusado novamente. “É que tem show, cuidar da voz e tal”. Que profissional! Que homem!
Aproveitando a oportunidade, o cara que estava com Danilin e inclusive tirou a foto de nós, era o baixista do Braza, um doidão de dread, prontamente aceitou partilhar daquele beck das nuvens. Danilin acendeu um cigarro e nos fez breve companhia.
Que momento bonito foi aquele, meus amigos!