Eu sei que isso pode me colocar em enrascadas, mas sempre que eu sonho algo maneiro com alguém, imediatamente conto pra pessoa. Ainda impactado com as imagens do sonho, nem raciocino muito: acordo, lavo o rosto, pego o celular pra ver as 300 mensagens não lidas, abro a conversa da pessoa e conto pra ela.
No processo de contar, começo a perceber as ideias por trás das imagens, e consigo entender melhor os caminhos que meu inconsciente passou para chegar ali. Eu devia contar isso pra um psicólogo, mas na impulsividade que prezo por manter, por achar que me torna uma pessoa mais transparente e verdadeira, conto pra pessoa diretamente.
Talvez esses sejam os momentos de maior sinceridade de toda a minha vida. Curiosamente, as pessoas sentem que estou mandando uma indireta.
Lembro daquela frase do Jodorowsky: Entre o que eu penso, o que quero dizer, o que digo e o que você ouve, o que você quer ouvir e o que você acha que entendeu, há um abismo.
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27/07/2019
Uma mesa da Skol de bar na orla de Copacabana. Um amigo abre a mochila e espalha vários prensados de R$50 na mesa. Uma sensação de perigo me cresce. “Cara, guarda isso, vai dar merda”, eu disse, mas um garçom, negro, careca, gordinho, de aparência até amigável, vem dar uma bronca nele. Enquanto a bronca é focada nele, eu pego um dos prensados e me afasto lentamente. Atravesso a rua, estou na Princesa Isabel, em Copacabana.
Agora que os anotei, é curioso pensar como cada cena remete a um sentimento muito intenso e específico de mim. Esta remete ao que é, com certeza, a pior sensação dos meus dias: comprar maconha. Eu costumo comprá-la uma vez a cada 45-50 dias e o medo de dar merda me deixa esquisito o dia inteiro. Quando coloco na mochila, parece que estou carregando explosivos.
De repente é noite e eu estou numa festa. Várias pessoas dançando, aquela iluminação pisca-pisca, mas eu não ouço nenhuma música. Isso não me estranha. Por alguma razão, eu estou tentando pegar o celular para tirar fotos. Dois heteros topzera, daqueles fortões e nitidamente retardados, brincando um com o outro dão uma forte cabeçada no meu celular. Eu checo se ficou tudo bem, não consigo descobrir, mas sinto um ódio profundo dos caras.
Desde que eu comprei um iphone, dois meses atrás, já sonhei 4 ou 5 vezes que ele sofria alguma avaria. Geralmente, é por alguma idiotice minha, de forma que eu apenas internalizo um sentimento de culpa. Dessa vez, junto a sensação com a raiva e desprezo que sinto de caras fortões e bobões, o que me consumiria de um ódio tão profundo – até por não poder fazer nada – que eu não saberia lidar.
Num piscar de olhos eu estou num lugar ensolarado, possivelmente numa pousada ou casa em frente a uma praia. Me lembro de quando fui à Praia do Sono, mas é algo mais confortável, como se estivesse em um quintal de uma pousada muito rica. Há uma cama e, nela, com uma roupa branca e leve, está Aquela Mina Incrivelmente Gata que saí Aquele Dia.
Ela está sorrindo, com aquele olhar hipnotizante dela, e eu me aproximo para beijá-la. O beijo é quentinho, agradável, eu me sinto em casa com aquele cheiro, aquela presença. “Hum, só esse beijo já valeu a viagem”, eu acabo dizendo.
“Sério? Eu me sentiria frustrada se tivesse vindo aqui pra isso”, ela responde.
Eu nem vi o rosto dela dizendo. Não tem como afirmar que foi ela. Talvez tenha sido minha própria voz, que respondia na minha cabeça, dentro mesmo do sonho. De repente, enxergo-me por cima, estatelado no chão: está tudo escuro, e eu sou apenas um corpo sem cor no chão, caindo, caindo, caindo.
Exatamente assim:
A mira de uma arma aparece em meu peito. Acordo.
Minha insegurança. Que não é exatamente um problema pra mim, sou até bem seguro, mas minha insegurança para com essa mina, especificamente. O que também não chega a ser um problema. O que me chama a atenção é que é a primeira vez, em uns 8 meses, que sonho com uma menina que não é Aquela do Los Hermanos.
PENSAMENTOS SOBRE SONHOS
1. É incrível como Evangelion permeia meus sonhos de imagens. Que anime onírico do caralho! Sentimentos de insegurança, de solidão, de autosabotagem, todos podem ser ilustrados por frames de Evangelion. Jogue “Evangelion Frames Shinji” no google e você verá um anime feito de sentimentos tristes.
2. Quando eu tinha 15 anos, após uma paixão muito intensa por uma menina que me magoou, passei mais de 6 meses sonhando repetidamente com ela. Acordava um caco. Eram os piores momentos da minha medíocre vida de estudante. Como eu já escrevia na época, existem relatos de todos os acontecimentos e subsequentes sonhos com a menina. Os mais detetives podem dar uma pesquisada lá por 2010.
3. Quando era criança, ali pelos 7 anos, lembro de uma novela antiga que minha mãe assistia em que uma mulher, personagem principal da novela de cujo nome não lembro, odiava um determinado cara, eram inimigos, implicavam, etc. Até que, num dia, ela sonha com ele em uma praia, saindo do mar. Quando ela acorda, daquele episódio em diante, está perdidamente apaixonada pelo cara. Ninguém entende o que aconteceu, nem ele mesmo. No final da novela, eles ficam juntos. Desde aquela cena, eu tomei pra mim como fato dado que, ao sonhar com uma pessoa, é totalmente plausível você acordar completamente apaixonado por ela.
Houve momentos na juventude em que eu sonhava com meninas completamente aleatórias e aquela paixão inesperada era o tema de meus pensamentos por dias. Meninas que conviviam comigo todas as manhãs e eu nunca tinha olhado – de repente, paixões que brotavam em minha vida como cristais de gelo no inverno.