
Vamos voltar um pouco…
DIA #1
É ruim psicologicamente. Eu estou pensando em excesso, o tempo todo, ela aparece numa frequência enorme, ridícula até, me leva a fazer coisas ridículas. Fico recordando tudo que deu errado, todas as palavras ruins, olho para os rostos e fotos e procuro maus tratos. Tudo pra sufocar esse sentimento de querê-la que só me machuca mais, por doer em dobro. Sinto-me um saco, insuportável, pedindo desculpa por tudo, puxando papos ruins, me jogando todo estabanado nas conversas como se a sociedade fosse obrigada a inebriar essa ausência. Estou existindo em excesso, cansado de mim, exausto. Sei que sou ótimo, mas mesmo assim. Não é culpa minha, não podia ter sido diferente; mas mesmo assim. Sei que vai passar, mas mesmo assim.
DIA #2
Eu não estou reclamando. Talvez esteja, mas como um doente reclama da tosse; a reclamação não tem objeto, é só um grito. Faz bem uma dor às vezes, pra lembrar que não sou tão diferente assim, pra lembrar que a vida é dura também. As árvores precisam da chuva e eu preciso da crise. Não fosse ela eu nem escrevia nada. Mas mesmo assim… Mesmo assim minha garganta está cerrada, meu apetite nem existe. E todos os motivos do mundo parecem banais. Todas as razões, irracionais. É como uma gripe que bateu sem friagem.
DIA #3
É importante esse tipo de coisa pra te lembrar que você não é nada demais, sabe? Tem gente que não devia pensar nisso, não. Gente que já é problemática e ficar recordando que é um bosta não ajuda. Mas eu carrego comigo uma arrogância, uma segurança; que nem faz muito sentido. Eu sou um cara legal? Aham. Mas qualquer cara legal com dinheiro é melhor. Qualquer cara legal que more sozinho é melhor. Qualquer cara legal com um carro, com um emprego descolado… E diga-se: às vezes, ser legal nem é o mais importante. Love is all about benefits. Eu não passo de um bom conversador, e não devo enxergar nisso o tanto de mérito que enxergo. Ah! Meu coração, este digo com convicção: é melhor do que o da maioria que conheci. Mas isso ninguém enxerga. Então digo pra mim – azar o deles, que não quiseram construir morada. Teriam encontrado a felicidade que buscam, por que eu sou assim, faço feliz a quem amo. Viu? Em um parágrafo fui de me sentir um merda pra um auto-elogio que depreende estar nos outros o defeito. Estou uma montanha-russa.
DIA #4
Não consigo ouvir música triste quando tô triste. Música triste escuto feliz, pra sentir a tristeza sem me deixar afetar. Também não dá pra ouvir música feliz estando triste, não faz o menor sentido. Só o que encaixa é piano. Por que ele não diz nada, só tá ali te fazendo companhia. Ou um violino, que chora por ti tudo o que tu não consegue.
DIA #5
Eu já tô lidando perfeitamente bem com a situação e isso tem me tirado uma boa parte da poesia. Se percebo a tristeza é em breves instantes, e tiro daí até uma certa motivação e crescimento pessoal. Tenho desenvolvido metodologias pra lidar com sentimentos desde que me entendo por gente, e recentemente tive a ideia de desenvolver a Gestão de Badvibes. Ela pode mudar a sua vida. Basicamente procurei enxergar quais eram os momentos de maior periclitância trística e garantir que neles eu não incomodaria ninguém.
Acordar é sempre ruim, parece que toda a atividade psíquica do meu cérebro se concentra em trazer à tona a melancolia que eu ignoro perfeitamente na maior parte do tempo. E sonhar, quando se está nessa situ, é sempre a pior coisa possível, pois os sonhos não tem como ser bons – ou são ruins em si, ou são tão bons que desgraçam sua cabeça ao acordar. Além de que o primeiro pensamento desgraçadamente será “é, mais um dia; nada dela”. De manhã, então, antes das 11h, a Gestão de Badvibes desaprova o contato humano.
É de cada um descobrir seus momentos de periclitância. O fim do expediente é sempre perigoso, pois era a hora em que eu mandava mensagem safada tentando descolar algo pra de noite. O ônibus, sempre ele, é possivelmente o principal momento para encarar lamúrias. Todo o ambiente é desgastante, as pessoas em geral estão tristes e, uma hora ou outra, eu tenho que passar pelo trajeto que levava à casa dela e desviar. A gestão de Badvibes recomenda um baseado e ignorar as redes sociais; separar músicas para esse momento ajuda. Lembre-se: as músicas são suas melhores amigas. Elas dizem exatamente como você se sente e te fazem perceber que tu nem é lá essas coisas, que o que tu tá passando é tão normal que um bando de desconhecidos já escreveu sobre a mesma coisa.
DIA #6
Até agora nada se compara à dor dos domingos de manhã. Eu nunca tive tanta dificuldade para lidar com domingos. Por que é a hora que os casais estão juntos, é a hora em que não tem como esconder a dor. Você a vive plenamente percebendo sua solidão compulsória. A gestão de Badvibes sugere ir à praia, dar um mergulho e pedir aos orixás do mar que levem tudo que há dela em ti pra longe. Ou a um samba com os amigos, pois no samba aprende-se a tristeza alegremente.
Em caso de estar em São Paulo, a gestão sugere: não esteja em São Paulo.
DIA #7
Flertando com a indiferença, mas ainda namorando a saudade. Sei lá, entre esses dois eu sinto que já me encontrei. Tudo agora me parece ter sido uma certa besteira. Nem é como se eu quisesse tanto assim. É que eu sinto, mesmo, e me permito sentir também. Não fico censurando, digo e faço o que dá na telha. Por que eu to triste, e eu posso. Não devia. Mas posso. Nesse raciocínio os erros são mais recorrentes do que seria indicado. É meio destrutivo, na verdade. Dançando no limiar da insistência com a vergonha, eu sou meio destrutivo. Como se eu só ficasse de boa depois de destruir qualquer possibilidade. Eu me dou ao privilégio de sentir, de sofrer. O problema é que envolvo os outros nessa egotrip, inclusive você que lê, agora, também faz parte. Mas não me estendo, pois a vida é boa demais pra isso.