Ultimamente eu tenho tido aquela que, ouso dizer, é a melhor aparência que já tive na vida. Isso é triste, pois sugere que daqui pra frente só há de piorar. É claro que a minha visão sobre isso é subjetiva e tendenciosa; talvez somente meus pais, que me viram diariamente nos últimos 23 anos, soubessem afirmar isso, mas fato é que me olho no espelho e me sinto bonito.
O que penso é que, independente da minha autoestima, que está alta sim senhor, estou bonito. Todo o emaranhado cósmico que delimita os pormenores de nossas vidas se alinhou de forma tal que hoje posso frequentar a academia, praticar esportes, ter uma alimentação de qualidade e um ritmo de vida saudável.
Tudo isso, somado e em suma, juntou-se a um momento em que encontrei no Ney, meu barbeiro, um amigo, um companheiro e ajudante, diferente das moças de salão que sempre mais prejudicavam do que ajudavam, a despeito do preço que cobravam.
Não só isso, inclusive. Penso em argumentar que todas as pessoas vivem o auge de sua aparência aos 20-e-poucos-anos, mas prontamente percebo a invalidez desse argumento (algo que muita gente deveria fazer: perceber a invalidez de seus primeiros argumentos) pois há quem floresça uma criança bonita e cresça estranha, há quem surja bonita e cresça bonita também, preservando EXATAMENTE a mesma cara, o que é estranho (e um pouco desgastante), há quem seja feia por toda a sua trajetória até um momento de periclitância em que muda radicalmente e vira modelo de remédio para emagrecer, e há, enfim, um monte de trajetórias possíveis pela vida.
O que quero dizer é que estar com 23 anos me ajuda um bucado. Se até os 13 anos fui uma criança absolutamente degradante, branquela, branquelíssima, “gasparzinho” era meu apelido, “branco azedo” me xingavam, “esperma com a cabeça queimada” comentou certa vez um amigo, depois dos 13 anos tudo mudou.
Essa aparência assim era por que meu cabelo, duro, seco, esquisito, sempre fora cortado ditatorialmente pelos meus pais; era mandatório passar a máquina 4 uma vez por mês. Mas aos 13 anos minha mãe, num destes muitos suspiros de genialidade que minha mãe tem em certos momentos, me levou ao salão lá da rua do Sesc pra fazer uma escova. Eu poderia ter impedido, pois o medo de ser zoado era grande, mas depois de tantas vezes, tantos momentos me olhando no espelho e sonhando ter uma franja, um cabelo liso, pelo menos um pouco pra baixo, depois de todas essas vezes eu topei logo de cara a escova. Mas fazer escova era caro e ruim de se fazer toda hora, e aí a gente teve que fazer chapinha mesmo. Nessa, eu angariei pela primeira vez uma aparência agradável, ainda que bem fajuta, pois a chapinha era péssima e saía ao longo do dia, e meu rosto era esquisito, muito esquisito, e meu corpo era raquítico, ossudo e branco, e meu nariz, grande demais para a minha cara, apostava corrida com o queixo pra saber quem chegaria mais longe do resto do rosto.
Aos 15 anos eu comecei a fazer academia, mas só aos 18 as coisas começaram a melhorar, não por causa da academia, mas por que eu comecei a ter barba para esconder a minha cara. A franja escondendo uma parte, a barba a outra, sobrava pouco para ser feio. Mas eu conseguia. Por que foi nessa época que eu resolvi tentar ter cabelo cacheado pela primeira vez, e sei lá, véi, diga o que você quiser aí sobre autoaceitação e coisa e tal, mas fazer o que se eu me sinto uns 45% mais bonito com a chapinha? Isso mesmo: fazer chapinha. Após muitas tentativas de aceitar os cachos, resolvi aceitar a chapinha, o que foi uma ótima decisão, diferente da decisão que eu tive aos 22 anos, quando achei que não precisava mais ir ao barbeiro e minha mãe ou minha ex-namorada poderiam cortar meu cabelo. Não poderiam, mas eu ignorei essa verdade por alguns meses, que me mantiveram com um penteado tão esquisito que poderia ser adotado pelo Neymar.
Mas o corpo continuava raquítico, por mais que já se fossem 5 anos que eu malhava, sem tomar suplemento e comendo relativamente bem. Aí eu fui na nutricionista, e ela me deu umas dicas, uns toques bobos, que rapaz… não que eu siga muito, não que eu coma fruta, nem o principal, que ela bateu tanto, que era tomar café da manhã. Eu nunca tomo café da manhã, por que o odeio e quero destruí-lo com o calor do meu ódio por estar acordado, e isso faz com que fique de 23h até 12h do dia seguinte sem comer nada, tempo o suficiente para que meu corpo queime a maioria das calorias que eu possa ter reservado ultimamente. Mas olha, pra falar a verdade, eu não segui nada do que ela disse, por que a nutricionista era meio marrenta, ela me deu vários esporros, “você não estuda o que você come não?”, claro que não, porra, se estudasse eu não precisava de nutricionista; e as condições que ela dava à secretária eram degradantes, enfim, uma pessoa desagradável em diversos níveis e que, quando foi à sala de espera e viu que na TV falavam sobre o Lula, ela disse que já passava da hora de o matarem, o matarem!!!, e isso não se fala do nosso Lula!
Por esses motivos eu caguei para a maior parte do que ela disse e continuei sendo raquítico por alguns anos, até que o professor da minha academia mudou, e esta história é engraçada.
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Que empreitada maravilhosa a SadStation, canal pelo qual o Lucas lançou a nova canção do ícone emo Visconde. É engraçado notar como, a despeito de toda a lógica, o Visconde ainda é o melhor projeto do Lucas.
Uma consideração sobre “relatos de uma autoestima #01”